A VELHINHA
Léo Montenegro

O magricela acendeu os olhos quando viu a velhinha toda enrolada no caixa eletrônico:
- Quer ajuda, vovó?
A velhinha abriu um sorriso:
- Até que enfim uma boa alma! Eu já tava quase saindo no tapa com essa máquina idiota! E uma pessoa da minha idade não pode se dar a essas coisas!
O pilantra, voz mansa:
- Não se exalte, que isso faz mal pro coração! Minha mãe se queimou com o troco que o açougueiro deu a ela e, uma semana depois, botou o bloco na rua!
A santa senhora isolou no caixa:
- Vira essa boca pra lá, meu filho! Ainda pretendo ver o filho do Ronaldinho marcar muitos gols com a camisa do Brasil!
O homem achou de dar o tiro de misericórdia:
- Seu cartão, por favor! Garanto que, num piscar de olhos, a senhora estará com a sua pensão na bolsinha pra comprar aqueles remédios todos, pagar o que deve a sua coleguinha da casa ao lado e comprar comida com o que sobrar!
A velhinha, num vacilo:
- Será que posso confiar no senhor? Vou tirar dinheiro pra dedéu! Ou 151 reais não são uma fortuna?
O magricela:
- Claro, mas não se preocupe! A senha, por gentileza, porque sem ela eu não vou conseguir nada!
Foi aí que a velhinha mandou ver:
- Aí é que pega! Esqueci! Só sei que são seis números e os primeiros são 84723 e...e...esqueci o último!
O magricela, célebre:
- Deixa comigo!
Ela, no ato:
- É ruim! Me dá 100 reais, que eu deixo! Sem garantia, nem pensar! E se o senhor se manda com a minha pensão?
O magricela não teve outro jeito, pois ainda ia lucrar 51 reais e tentar nove dígitos apenas:
- Taqui os 100! Agora, afaste-se porque eu vou encarar esse caixa eletrônico!
A velhinha:
- Pode deixar! Inclusive, vou tomar um cafezinho, enquanto o senhor tira a grana!
E se foi, deixando o vigarista às voltas com o caixa eletrônico, que não aceitava o cartão nem a pau. Também, era falso...